É ou não é a oitava maravilha? Maior manifestação artístico-cultural popular do país, o carnaval é visto como espelho e metáfora das duras realidades sociais e políticas do Brasil. Não é por acaso que tantos pensadores partam da festa para pensar as singularidades e profundidades da identidade brasileira.
Desde seus primórdios a folia já foi muitas vezes perseguida, censurada, reprimida, adiada e até cancelada. Porém, nunca foi vencida. Tendo muitas de suas origens enraizadas na cultura africana e negra, e acontecendo em um país de tradição racista e escravocrata como o Brasil, pensar o carnaval separado da política é impossível.
Racismo, exploração, escravidão, desigualdade e luta – todos esses temas são presentes, direta ou indiretamente, nos carnavais e desfiles. A realidade é que os desfiles, ao longo das décadas, sempre foram marcados por importantes, comoventes e corajosos momentos de resistência política e denúncia por parta das escolas – em cenas históricas e inesquecíveis.
Desde meados da década passada os desfiles, em nível nacional, têm tido enredos engajados, com enfoques políticos, louvações à religiosidade de matriz africana, críticas sociais, denúncias contra a intolerância religiosa, racismo e qualquer tipo de exclusão.
Nada acontece por acaso, nem mesmo no carnaval. Enquanto soprarem ventos de autoritarismo, intolerância, preconceito, ódio, “bispos e capitães” e “messias de arma na mão”, a festa profana seguirá exercendo sua função social de, mesmo num ambiente de alegria, canto, dança, poesia e “avenidas engalanadas”, denunciar essas mazelas e fazer pensar um povo historicamente marginalizado e perseguido.
#Gerson Brisolara/ Jornalista